Alguns Míseros Trocados
Eram 18:00h de um ensolarado domingo de verão. Eu e alguns amigos estávamos no saguão da Igreja, esperando pelos últimos integrantes do grupo de louvor para começarmos o ensaio, quando um homem franzino e de estatura mediana, adentrou os portões da igreja.
Estávamos muito acostumados com esta cena, visto que nossa igreja fica de frente para a praça central de Limeira, onde muitos andarilhos se reúnem aos domingos. Muitas vezes estes andarilhos vêm à nossa igreja, pedindo por dinheiro para comprar alimentos ou remédios, e muitos deles trazem consigo um forte cheiro de álcool e cigarro, levando-nos a duvidar sobre o destino que será dado ao dinheiro. Por este motivo, normalmente nós os encaminhamos aos diáconos da igreja, que dificilmente dão dinheiro. Ao invés disso eles costumam dar alimentos não perecíveis ou comprar os remédios requisitados na farmácia vizinha. Porém, eles só chegariam por volta das 19:15h, pouco antes do início do culto daquela noite.
A barba mal feita e as roupas sujas mostravam que o homem estava, provavelmente, há muito tempo longe de casa. Os cabelos grisalhos e sem corte, denunciavam certa idade. Seu olhar refletia a frustração de sua alma, talvez por sua situação deplorável. Seu cheiro, apesar de forte, não demonstrava nenhum vestígio de álcool, ou cigarro.
O homem caminhou pela rampa em nossa direção, e parando a cerca de 3 metros de distância perguntou:
“Quem é o responsável aqui?”
Como não havia nenhum oficial, respondi:
“Eu.”
Então o velho homem me expôs sua situação, ele estava tentando chegar a Rio Claro, porém a estação ferroviária estava fechada, e seus recursos, cerca de R$ 3,10, não eram suficientes para pagar o ônibus que custava cerca de R$ 5,00. Por diversas vezes, aquele senhor, nos ressaltou que era um homem honesto e trabalhador, mostrando suas mãos calejadas como prova disso.
Após alguns instantes de conversa, informei-o que os diáconos eram os responsáveis por estes casos, e que, se ele pudesse esperar até as 19:30 h, provavelmente algum deles poderia comprar-lhe uma passagem na rodoviária. Com um ar de decepção, e talvez achando que aquilo era apenas uma desculpa para dispensá-lo, o homem me respondeu:
“Eu estou entendendo o que você está tentando me dizer. Eu já pedi de casa em casa, fui na igreja católica, e estou aqui na igreja dos crentes, e até agora, ninguém me ajudou!”
Isto definitivamente feriu meu ego, e a partir daquele momento, ajudar aquele senhor tinha se tornado um ponto de honra para mim. Afinal, o que ele poderia pensar sobre o amor de Deus, se Seus filhos não podiam ajudá-lo com alguns míseros trocados? A parábola do Bom Samaritano passou como um flash em meu cérebro. Rapidamente, fiz uma oração silenciosa, dizendo: “Deus, ajuda-me a fazer a minha parte, sem saber se ele vai fazer a dele.”.
Peguei minha carteira, retirei os R$ 2,00 que faltavam e entreguei ao homem. No mesmo instante, aquele senhor apertou minhas mãos com toda sua força e agradeceu-me inúmeras vezes, dizendo que Deus me devolveria em dobro. Pude notar que seu olhar havia mudado, e agora estava cintilando de alegria. Despedi-me do homem e, antes que ele fosse embora, perguntei seu nome.
“Meu nome é José.”
“José, confie em Deus!” – eu disse.
“Eu sempre confiei!” – ele respondeu.